quarta-feira, novembro 05, 2008

Subimos na cidade de Deus


“Subir horarios” para quem não conhece o cotidiano das escolas públicas, é quando alguns professores faltam e outros preeenchem esses horários vagos com atividades diversas. Numa oportunidade dessas hoje tive a chance de passar na sala de vídeo pra as salas 207,208 e 209, o filme Cidade de Deus.O filme de Fernando Meirelles retrata o cotidiano de uma favela carioca sobre a ótica da violência e do tráfico. Grande parte do elenco foi escolhido entre garotos que vivem em diferentes favelas do Rio de Janeiro. Mostra um mundo desconhecido da classe média, que vê a favela como um amontoado de barracos, ou como assunto de noticiários policiais.O filme escancara o apartheid social que vivemos no país. Narra aventuras individuais traçando um painel da realidade urbana. Leva quem assiste e analisa a entender melhor as dificeis escolhas que se impõem aos jovens da periferia: Ser honesto e viver em uma digna miséria ou unir-se aos bandidos e viver pouco tempo mas com mais grana e “respeito”. Não tinha assistido a película. Me lembrou um dos casos de quando dava aulas numa escola pública aqui na periferia de Belo Horizonte num dos bairros mais violentos da cidade chamado Alto Vera Cruz. Quando cheguei na escola, encontrei um ambiente que de certa forma estava familiarizado. Nasci num bairro cercado pela maior favela da cidade. O complexo do cafezal. Não demorei a me aproximar dos alunos, com muito cuidado por que eram a primeira vista muito arredios e desconfiados. Um dos primeiros que fiz amizade se chamava Adriano. Era alto, negro, cabelo oxigenado, usava muitas correntes e adereços pelo corpo e portava aquela voz característica da malandragem se é que me entendem. Fanhosa, swingada e cheia de gírias e de jargões. De cara vi que era um bom rapaz e que aquela “capa” de malandro era apenas influência do meio e uma tentativa de parecer menos desprotegido do que era na verdade, como a maioria de seus amigos. Fui me aproximando lentamente e, para a minha surpresa, depois de dizer que conseguia enxergá-lo por trás daquela capa, o cabelo foi raspado, a voz tornou-se normal e os penduricalhos sumiram. Começou a freqüentar as aulas e depois de um tempo sumiu. Pensei o pior. Em poucos meses fiquei sabendo de dezenas de casos de assassinatos por motivos que vocês nem acreditariam. A maioria tinha relação com o tráfico como no filme de Meirelles. Tive noticias que estava trabalhando e que namorava firme. Um ano se passou. Nos reencontramos. Parecia outra pessoa. Me contou seus planos de futuro e disse-me que ia ser pai. Fiquei muito orgulhoso e pensei ,esse vai se dar bem como o Buscapé do filme de ontem. Estava construindo um barraco no fundo da casa da sogra.Trabalhava e tinha planos de comprar um lote num bairro mais afastado para fugir da violência. Não queria que seu filho passasse pelo mesmo que passou. Sumiu novamente. Não me preocupei como da primeira vez. Ele estava no caminho. Passado um tempo me esqueci dele. Um dia na hora do almoço num desses jornais televisivos, vi mencionarem o “Alto” mostrando uma carteira de identidade com uma foto pouco nítida. Preciso continuar ? Acho que quando comecei vocês já imaginavam no que ia dar, não é?Por causa de um acerto de contas do tráfico, invadiram seu barraco por engano e o mataram na frente da esposa que tinha o filho no colo. Parece coisa de filme, mas juro por tudo quanto me é mais sagrado; ACONTECEU.Cidade de Deus é um dos filmes que já foi tão comentado e reverenciado que se torna monótono e repetitivo escrever sobre ele. O melhor mesmo é vê-lo. Concordo com Zuenir Ventura.“Assistir a Cidade de Deus é um dever cívico.”
Espero que os alunos que viram o filme façam comentários sobre a seção “cinematográfica”

7 Comments:

Blogger vinicius said...

fla corei...

foi bom d+++ a seçao...tah tinha visto o filme mais msm assim vlw a pena...

vinicius 207

flwz

05 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo said...

Achei a idéia de passar o filme ótima, além do que o filme retrata um assunto muito atual né..
Foi muito bom,sair tb do cotiano das aulas!

Beijos
Camila Fernanda 207

06 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo said...

Vejo q vc Marcao tem uma cultura fundamental para o nosso cotidiano.Com certeza assisti esse fime 2 vezes quero ter oportunidade de ve-lo novamente porque ele e otimo.Bem sinto saudade de tres anos atras quando tive vc como o melhor prof de matematica la no Pedro II.Nos temos que encontrar para bater um papo,estou precisando de uns conselhos de vc.UM forte abraco de seu amigao AILTON PEDRO II 2006

07 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo said...

Adorei o filme e acho que deveria ter outras seções do tipo além de chamar nossa atençao nos passa a informação de como a vida é na realidade...
foi muito bom...
Bejus!!!
Talita 207

14 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo said...

Coréi o filme é muito bom, pois podemos ver nele um poco da realidade que vivemos e as vezes fechamos os olhos para isso.Cada vez mais a violência vem crescendo em nosso país.E acho que com esses horarios alternados ai quando faltar professores deve passar outros filmes para nós alunos crescermos mais e abrir os olhos para a realidade.
Abraço.
Nádia 209

19 novembro, 2008  
Blogger pipoca said...

Ai corei o filme tava bom de mais tinha q ter mais vezes ...


flo ae.


Luis Henrique

207

20 novembro, 2008  
Anonymous Felipe said...

Cara a mais pura realidade que vc falou... o meio influencia demais a pessoa o ser humano, e quando vc quer fugir desta triste realidade vc naum consegue. Fiquei sensibilizado com a história deste menino que quando estava no caminho certo um fatalidade acabou com uma família. Preocupante!

30 março, 2013  

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